terça-feira, 2 de junho de 2009

Homofobia materna

"Eu deveria ter colocado veneno de rato na tua mamadeira", sussurrou a mãe ao ver o filho pequeno se requebrando ao som do hit do grupo É o tchan ("Então segura o tchan, amarra o tchan, segura o tchan, tchan, tchan, tchan..."), diante de mim e dos amigos da família, na festa de aniversário de um amigo.

A homofobia materna cria monstros de insegurança, adultos deprimidos, carentes, ansiosos, sempre em alerta constante e desconfiados sobre sua capacidade de amar e ser amado, à espera de mais uma experiência de rejeição. Ninguém quer sofrer uma nova sensação de abandono.Para gays e lésbicas, fugir da figura materna impiedosa e autoritária é uma das saídas para evitar essa dor provocada pelo desajuste, pelas cobranças para seguir o script hétero e abortar o desejo por alguém do mesmo sexo. Mas como largar alguém que nos colocou no mundo e amamentou? Como cortar laços afetivos tão viscerais?

É preciso tentar. Em nome da sua sobrevivência e da sanidade mental. Não permita que sua mãe destrua sua autoestima nem use da chantagem emocional para "enquadrar" sua orientação sexual. Ela não tem esse direito. Lute contra a tirania de quem balançou seu berço. Ela pode nunca aceitar sua homossexualidade, mas com jeitinho é possível conviver, respeitar e dividir bons momentos com aquela que deu o primeiro sopro de vida.

Lembre-se:
Não é preciso brincar de boneca nem vestir roupas femininas para que sua mãe perceba que você é "diferente". Mais cedo ou mais tarde, antes mesmo que você ou alguém fale com todas as letras, ela saberá primeiro ou desconfiará. A primeira reação materna será guiada pelo o que se aprendeu no meio social: "gay é um óvulo estragado que insistiu em nascer". Ela se sentirá frustrada, tentará esquecer ou fará tudo para esconder do mundo (principalmente do marido) esse "fracasso genético". Depois tentará consertar, punir ou torturar o objeto de vergonha. Para perdoá-la, lembre-se sempre: sua santa mãezinha é humana (imperfeita e egoísta).

Você nasce devendo nove meses de aluguel a sua mãe. Ela cobrará essa dívida e sempre tentará segurá-lo debaixo de suas asas. Quanto mais cedo você conseguir independência financeira, melhor, pois assim terá condições seguras de sair de casa e reduzir conflitos com seus pais sobre sua homossexualidade. Isso caso você queira viver sua orientação sexual às claras, sem dar satisfações a ninguém nem ouvir intervenções dos outros. Mas é bom ter em mente: morar com a família ainda tem suas vantagens práticas. É o aluguel mais barato da praça, sem necessidade de fiador, ideal para economizar e viabilizar aquele cruzeiro gay dos seus sonhos (eu mesmo já fiz um e adorei... recomendo!! rsrsr).

O cineasta espanhol Pedro Almodóvar foi muito feliz ao expor a histeria feminina. As mães são exageradas e absurdas. Os hormônios enlouquecem as mulheres. Com depressão pós-parto, uma mãe pode estrangular seu filho com uma fralda. Uma viciada pode deixar o rebento morrer de fome ou de coisa pior. Quando criança, nunca sabemos o que se passa na cabeça delas, como anda seu casamento ou as circunstâncias da concepção. Héteros adoram gravidez indesejável, um filho para salvar casamento. Não vista a carapuça de que você, por ser gay, é o grande problema. Releve as maldades de uma mãe dramática e vingativa.

Não demore a procurar ajuda especializada para lidar com a homofobia materna. Se ela acha que um psiquiatra vai "curar" sua homossexualidade, aproveite essa despesa médica e vire a questão pelo avesso: "Doutor, preciso conviver com esse tipo de mãe ou serei um adulto traumatizado. O senhor não poderia receitar algum tranquilizante ou antidepressivo para ela ou para mim?" Se já é adulto, fique atento ao difícil processo de envelhecimento materno, como sinais de solidão, viuvez, falta de lazer, abandono. Cuide dela (faça ginástica, mamãe), mesmo que ainda haja mágoa pela educação opressora. Peso na consciência de filho faz mal à pele bixa rsrsrsr.

Se você não suporta a repressão materna por causa da homossexualidade, trate de decretar logo sua autonomia emocional e refaça sua base afetiva com amigos, sem mentiras nem pressões descabidas. Não perca tempo. Não deixe para fazer isso depois dos 30. Nos primeiros anos, você sentirá falta do colo, dos mimos e todo o carinho que só as mães sabem oferecer. Mas há o outro lado, o preço que elas cobram por isso: obediência cega a tudo que pregam. Ao virar homem de verdade, evite promessas de que nunca a abandonará, que sempre estará ao seu lado. Você agora tem sua própria vida, não ceda ao chororô, não volte com o rabo entre as pernas.

Por mais desgastante que seja, você terá de ensinar sua mãe a respeitá-lo. Não acontece do dia para noite, mas ela precisa sair das trevas da ignorância e se atualizar um pouco sobre o mundo. No primeiro momento, ela rejeitará essa iniciativa, pois foi programada à ideia de que "filho sabe menos". Mas não desista e martele na cabeça dela notícias sobre a tolerância da homossexualidade em outras áreas. Mostre filmes, livros, revistas, panfletos. Aponte exemplos de mães que convivem com gays. Tente argumentar sem impor e nem provocar. Não force a barra com visitas de namorados antes do tempo. Não espere mudanças no curto prazo, busque aliados na família.

Quer conhecer realmente alguém? Comece pela mãe. O mimetismo costuma ser surpreendente. Passamos a vida toda à procura de um substituto para nossas mães. Nem percebemos quando a imitamos, seja em suas reações, acertos ou erros. Mesmo quem nunca teve uma mãe biológica acaba se atormentando com essa lacuna ou elegendo uma figura feminina para genitora simbólica, como as divas. Tentamos ser sempre um clone daquilo que admiramos. E o mundo seria realmente lindo se esse amor fosse mútuo, com respeito às diferenças. Quando não é assim, só nos resta superar o passado, sobreviver e se apegar ao futuro.

Aos amigos e leitores, aquele amor!!! hehehe...






3 comentários:

  1. Kra eu realmente me vi nesse seu post . Quando resolvi conversar com a minha mãe sobre a minha sexualidade , ela disse q já disconfiava , mas q sempre axou melhor nunca questionar , pois nao queria saber q seu filho era gay . Sempre tentei , e tento até hj ter uma conversa com a minha mãe sobre a minha condição , mas ela nunca se deixa ter essa conversa . Ela sempre diz q estou fazendo uma coisa errada . Mas ao mesmo tempo quando digo a ela q estou namorando e tal , ela fica mais tranquila , me pergunta como é a pessoa , se eu realmente estou bem . O q ela me pediu quando contei a ela , foi q não deixase q ninguem descobrisse , pois nao queria q eu a invergonhasse . Fiz isso por gostar muito dela , só q fico um poko chateado , por ter contado aos meus amigos e ela não saber disso . Não consegui esconder me senti com se estivesse realmente fazendo uma coisa errada. Hj eu sou mas tranquilo em relação a isso , meus amigos sabem da minha condição , mas o problema todo ainda esta dentro da minha ksa , com a minha mae , e é como vc mesmo disse , por isso tento a minha independencia financeira o quanto antes , para q possa viver como realmente kero viver . E em relação o É O Tchan , eu dançava e minha mae axava bonitinho , rsrsrs , e mais , hj em dia ela pede q eu ensine a minha sobrinha dançar como eu dançava antes ! posso com isso !
    abraços



    Ca-Leo _*

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  2. EM contrapartida a sociedade também dita que o maior amor que existe é o de mãe. Se ela não te compreender, como você espera que o resto do mundo te compreenda?

    Bem triste!

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  3. eu nunca tive esse problema.....em casa minha mãe é praticamente uma drag!!!! ela se sente uma mãe de miss comigo (hahahahaha) saimos juntos, já rolou de paquerarmos juntos (a bunita tá toda inteirona!!!) e somos o melhor amigo um do outro (confessando até historinhas de alcova!!!). Ela costuma dizer que mesmo se eu fosse hétero ela ia me amar igualzinho!!!! heheheheh
    queria que todas as bees tivessem uma mãe como a minha.....o mundo seria bem melhor!!!!
    bjo-bjo!!!

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