segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Desabafo do Galeni": parada gay

É inegável a importância que a Parada Gay teve. Falo teve, no passado, porque hoje, quando a manifestação atingiu seu ápice, fica difícil mensurar o seu poder de transformação. Quando surgiu, em 97, os tempos eram absolutamente outros. Doze, treze anos depois, por mais que em nível federal nos faltem muitas leis, avançamos em muitos sentidos.

Decisões judiciais favoráveis pipocaram, gays ganharam espaço na mídia, nas telenovelas e nos filmes. Porque um grupo de corajosos fomentou a Parada lá atrás, hoje consigo andar abraçado, de mãos dadas e beijar meu namorado na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapê. Claro que isso não é simples, há os olhares, as ameaças e os xingamentos a se enfrentar diariamente.

Temos aí um distanciamento histórico para analisar a importância da Parada. Hoje, não é possível mensurar quais serão os efeitos da manifestação daqui a 10 anos. Esse poder transformador da Parada, que ajudou a criar um cenário mais tranquilo de respeito e tolerância está diluído nos 3 milhões de pessoas que frequentam o evento. Dá para identificar os desdobramentos mais claros de sua importância, como um "engrossamento" do movimento social, algum reconhecimento jurídico, legislativo e sócio-cultural e o fato de o Brasil ser o país com maior número de Paradas, com cerca de 120 manifestações do tipo.

Por isso, não concordo com algumas críticas que a Parada de São Paulo vem sofrendo esses dias após a realização da sua 13ª edição, no último domingo. A cobertura jornalística ressaltando os furtos e empurra-empurra foi exagerada. As chamadas foram fortes e sensacionalistas, mas os próprios textos das reportagens desmentiam os títulos. Um empurra-empurra causado por cagada de um motorista de ambulância não chega a ser necessariamente responsabilidade da Associação que organiza a manifestação.

Gente bebendo, passando mal e vomitando tinha. Todo ano tem. Em qualquer evento público e grande, vide Virada Cultural, e até algumas pool parties acontecem. Mas era evidente que este ano a quantidade de passa mal estava menor. Reportagem da Folha (só para assinantes), de segunda-feira, trazia o registro de 412 atendimentos médicos. No ano passado, uma nota do G1 trazia o número de 500 atendimentos. Este ano, o G1 publicou que em duas horas 25 pessoas passaram mal e, neste mesmo texto, dizia que ano passado aconteceram mais de 1000 atendimentos. Oi?!
O que podemos aprender com isso? Que as próprias redações não olham para o arquivo de matérias que fizeram no passado para contextualizar e comparar fatos e dados. E que os números podem ser manipulados e distorcidos, dependendo de qual interesse se obedece e de quem é a fonte que divulga essas informações. O que temos então é a experiência empírica aí no meio, uma cobertura um tanto quanto rasa e até uma autopromoção por parte da Associação, em números astronômicos sabe-se lá o porquê.

Sobre os casos de agressão, incluindo aí a bomba e o espancamento que levou à morte de Marcelo Campos Barros, é outra coisa que não tem como negar. São episódios lamentáveis, tristes e revoltantes. Mas, desculpem-me se isso soar frio, morre bicha todo dia nesse país. A gente cansa de noticiar casos de violências e ataques de skinheads - e estes acontecem infelizmente com mais frequência do que imaginamos. É natural que fiquemos mais indignados com o caso do homem que morreu. A notícia está muito quente e, afinal, poderia ter sido qualquer um. Mas temos que tomar cuidados para não nos deixarmos levar pelo calor da situação. Ou nos esquecemos que em Carapicuíba morreram 14 homens e que apenas cinco pessoas, da organização do ato, foram no protesto pelas vítimas?

E é muito engraçado os meios de comunicação, ligarem os ataques homofóbicos, e violencia gratuita à Parada. Esquecem eles dos bandidos que ateiam fogo nos onibus, nos bandidos que assaltam e matam a qualquer época. Já que aconteceram ataques aos participantes da parada, a reação da mídia teria que ser de apoio a parada, pois, não foram os praticipantes da parada que mataram ou atiraram bombas, nós somos as vítimas. Como sempre neste país louco, as vitímas são tidas como culpadas. O que é isso??? Acorda Brasil.

Outra coisa a se apontar a respeito das críticas, tanto pelas coberturas dos jornais quanto pelos alardes de alguns blogueiros, é um cuidado com uma possível onda anti-parada.

Parece que temos um iminente conflito de classes circundando o debate. Pois a "classe média gay" tem "odiado" a manifestação, e os mais pobres "adoram" e veem na Parada uma oportunidade de libertação. E, querendo ou não, apesar de muitas limitações este é um movimento social que está mais preocupado com a democratização do evento do que as iniciativas privadas ( e acho um absurdo as bichas falarem que não vão mais á parada porque dá muita gente feia... afinal é um evento democrático e não uma festinha privê!... acorda bixarada!!!).

Um comentário:

  1. Em minha opinião, o movimento gay não devia se concentrar em passeatas apenas, pois me parece, que é algo provocativo dando razões aos homofóbicos de plantão, que querem exatamente isso, fazer parecer que todos homossexuais são inescrupulosos, sodomitas, e coisas parecidas. É chegada a hora dos gays deixarem de lado vestidinhos carnavalescos, suas peninhas e fantasias e encararem suas vidas com mais responsabilidade,dignidade. Pastores como, GLADESTONE, FÁBIO e outros estão tentando dar dignidade e teto aos homossexuais mais pobres e marginalizados desse país, pois eu acho que essa é a saída! Desculpe-me a sinceridade, e tratem desse assunto com mais seriedade, pois eu gosto de vocês que na grande maioria são gentis, felizes e muito humanos e o assunto é muito triste e polêmico. Sou heterossexual, mas gostaria de conhecer homens gays aqui no Rio de Janeiro, para amizade sincera, acima de 28 anos de idade, morador do Rio, meu telefone é: 93525281. Espero?!...

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